Governadores são reféns do crime que dizem combater

Os governadores de São Paulo e do Rio presos na ineficiência de seus governos. Cláudio Castro manda matar 121 pessoas e recolhe 93 fuzis. Tarcísio de Freitas invade a Faria Lima e diz que o PCC é o terrorista que usa maquininha de cartão de crédito na contravenção

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Em São Paulo e no Rio de Janeiro, os governadores Tarcísio de Freitas e Cláudio Castro adotam a mesma lógica diante do fracasso de suas políticas de segurança pública: terceirizam responsabilidades para o crime organizado. Quando algo dá errado, o inimigo é sempre o mesmo. Em São Paulo, o culpado é o Primeiro Comando da Capital (PCC). No Rio, o Comando Vermelho (CV). Assim, cada um tenta transformar facções criminosas em escudo político para encobrir incompetências e omissões do próprio Estado.

Tarcísio chegou a afirmar que o PCC teria mais de 1.100 postos de gasolina e até participação no controle de usinas de álcool. Mas na Operação Carbono Oculto, a Polícia e o Ministério Público apontaram apenas cerca de 300 postos que há mais de 15 anos adulteram combustíveis e sonegam impostos — algo que jamais foi surpresa dentro da cadeia de fiscalização paulista. 

Esse modus operandi criminoso era conhecido por praticamente todo o setor, inclusive por jornalistas. E mesmo assim, nenhuma ação contundente do Estado ocorreu nesse período (2010-2025).

É nesse ponto que as perguntas mais graves surgem. Por que a Polícia e o MP não estenderam a Operação Carbono Oculto para dentro da Sefaz-SP? Por que nenhum auditor fiscal foi investigado? Como é possível que, durante tantos anos, fiscais do próprio Estado não tenham autuado postos que adulteram gasolina com metanol da Bahia e que não recolhem o que devem? 

Por que não houve apuração efetiva sobre as denúncias feitas pelo jornalista Leandro Mazzini, na Coluna Esplanada, de Brasília, sobre o suposto vazamento de informações sigilosas de dentro da Sefaz-SP para o diretor do Instituto Combustível Legal (ICL), Carlos Faccio? Servidores teriam favorecido interesses privados, comprometendo a operação? Por que o governador Tarcísio e o MP continuam sem investigar se houve vazamento interno que beneficiou alvos da investigação?

Operação Carbono Oculto terminou com 1.400 agentes mobilizados, apenas seis dos 14 mandados de prisão cumpridos e oito suspeitos foragidos. Agora, a própria Polícia Federal investiga se houve vazamento de informações. A omissão da Sefaz-SP, somada à passividade institucional diante de um esquema que opera há mais de uma década, sugere que o problema em São Paulo não é apenas o PCC. O problema pode estar dentro do Estado.

Enquanto no Rio, a megaoperação nos complexos do Alemão e Penha deixou 121 mortos e mirou o Comando Vermelho — mas não capturou Doca, o líder apontado como alvo prioritário da operação, assim como não prendeu nenhum de seus principais colaboradores diretos no CV.

Como em São Paulo, o próprio governador Cláudio Castro admitiu possível vazamento de informações. No caso fluminense, o massacre e o fracasso operacional serviram como arma política para tentar conter a queda de popularidade do governador Cláudio Castro.

A diferença essencial é que, em São Paulo, o PCC identificado agora pelo MP opera como uma facção híbrida, light, flex. Não há apreensão de fuzis, metralhadoras ou arsenais pesados na Operação Carbono Oculto

A face atual do crime paulista utilizou fintechs da Faria Lima, maquininhas de cartão de crédito, engrenagens financeiras sofisticadas — e não as imagens clássicas do crime armado. O próprio MP já havia afirmado, num passado recente, que não havia PCC nessas empresas acusadas pela Operação Carbono Oculto, mas afirmou, no entanto, que elas cometiam crimes fiscais. 

O que está em jogo não é apenas o poder do CV ou do PCC. O que está em jogo é a incapacidade desses governadores de enfrentar a raiz do problema: No fim, Rio e São Paulo se tornam cúmplices — pela ineficiência e pela omissão — do inimigo que eles próprios criaram.

Tanto Castro quanto Tarcísio insistem em posar como governadores duros contra o crime organizado. Mas ambos governam sem controle real sobre aquilo que afirmam combater. 

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