Coincidência ou estratégia? Poucos dias depois do escândalo bilionário de corrupção e extorsão dentro da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo (Sefaz-SP) — esquema que funcionava sob os olhos do secretário Samuel Kinoshita e do subsecretário da Receita, Marcelo Bergamasco Silva — o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) deflagrou uma megaoperação contra a empresa Copape, apontando suposta ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
A cronologia levanta uma série de dúvidas inevitáveis. Afinal, por que a Copapesó agora virou alvo de um cerco espetaculoso, com direito a manchetes e holofotes, se as denúncias contra a empresa não são novas?
Em dezembro de 2021, uma denúncia formal foi protocolada no Ministério Público contra a distribuidora, de propriedade de Roberto Augusto Leme da Silva, conhecido como “Beto Louco”. À época, a própria Secretaria da Fazenda estimava que a Copape havia sonegado R$ 1,3 bilhão em ICMS.

Mais grave ainda: já existiam suspeitas de participação da facção criminosa PCCnos negócios da empresa. O tema voltou à pauta em 1º de março de 2024, quando o Blog do Luchetti levou a denúncia ao Fórum de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (FoccoSP), instância que reúne mais de 30 órgãos federais e estaduais de fiscalização. O protocolo de atendimento nº 0556/2024 registra a cobrança oficial por respostas, diante da inércia das autoridades.
A resposta do Ministério Público, enviada em 21 de maio de 2024, foi taxativa: o fato seria, em tese, “crime contra a ordem tributária”. Com isso o MP deliberou pelo arquivamento da denúncia. Arquivamento. Nenhum aprofundamento. Nenhuma operação. Nenhum alarde.

MP muda o alvo, e Tarcísio se cala: quem protege quem em São Paulo?
Agora, em 2025, a mesma Copape é alvo de uma megaoperação. O que aconteceu? O que mudou nesse intervalo? Os fatos ou a conveniência política? Se em 2024 não havia elementos para investigação aprofundada, o que justificaria uma ação espetacular um ano depois? Se havia, por que nada foi feito antes?
Enquanto isso, o escândalo da Sefaz-SP, envolvendo a Ultrafarma e a Fast Shop, segue sem respostas claras. Auditores fiscais presos por corrupção bilionária, sob comando direto de Marcelo Bergamasco, continuam a expor a fragilidade da máquina arrecadatória estadual. E, no entanto, os holofotes parecem ter se deslocado rapidamente para outro alvo.
Não se trata de inocentar a Copape, tampouco de minimizar sua eventual ligação – se ela existir – com o crime organizado. Mas a coincidência temporal abre uma dúvida incômoda: “quais investigações o Ministério Público de São Paulo decide arquivar e quais decide transformar em espetáculo”?
O governador Tarcísio de Freitas precisa explicar como a engrenagem do combate à corrupção funciona em seu mandato. E o MP paulista deve à sociedade uma resposta transparente: “o que mudou entre o silêncio de ontem e a operação de hoje?
Veja a integra da denúncia e do processo do Ministério Público sobre a Copape desde 2021 até o arquivamento em 2024:
https://drive.google.com/file/d/1X8FfJPIMaqnfeiDqtNZAVDNvXRloEhfK/view?usp=sharing
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