A Sefaz-SP vive um escândalo histórico, com auditores acusados de arrancar fortunas de empresas como Ultrafarma e Fast Shop. No meio da tormenta, o secretário preferiu embarcar para Washington, onde registrou a si mesmo, sorridente, com a Casa Branca ao fundo. Disse estar lá para “abrir portas para investimentos e parcerias” e “divulgar a liderança consistente” de Tarcísio de Freitas. Deve ser essa mesma liderança que deixa um esquema de chantagem crescer dentro da própria secretaria.
O hábito, aliás, não é novo. Marcelo Bergamasco, o fiel subsecretário, já fez de Milão um anexo da sede da Rangel Pestana. Uma funcionária achou que Lisboa era um bom lugar para experimentar teletrabalho — ainda que tenha esquecido um laptop apreendido no Galeão. Agora, é Washington que se torna a filial mais chique da “Sefaz pelo Mundo”.
Só que ninguém explica quais portas mágicas Kinoshita abriu na capital americana, nem que investimentos ou parcerias brotaram desse turismo institucional. Enquanto isso, Donald Trump ameaça o Brasil com novas tarifas, e o contribuinte paulista continua se perguntando quem, afinal, vai cuidar de varrer a sujeira dentro de casa.
Talvez fosse mais urgente explicar por que só dois auditores foram oficialmente apontados como corruptos, quando o esquema de extorsão parece ter drenado mais de R$ 1 bilhão. Mas, pelo visto, selfies em frente à Casa Branca rendem mais likes que respostas sobre chantagem fiscal e sonegação crescente.
A cena diante da Casa Branca poderia ser apenas mais um cartão-postal de viagem, mas ganha outra dimensão quando se lembra que a Fazenda paulista deveria estar voltada para reconstruir a confiança perdida. No entanto, em vez de respostas sobre a chantagem fiscal e a sonegação crescente, o que se oferece à opinião pública é a imagem de um secretário posando como se fosse um embaixador.
Enquanto Trump ergue barreiras comerciais e faz chantagem tributária, a Sefaz-SP ergue barreiras contra a transparência. Empresários denunciam extorsão, mas as autoridades preferem viajar — e posar. Se Milão e Lisboa já são sucursais tributárias, Washington consolida o novo modelo de “gestão itinerante”.
Afinal, a Secretaria da Fazenda de São Paulo parece menos preocupada em arrecadar tributos e mais interessada em colecionar cenários para selfies institucionais. Cobrar impostos nunca foi tão monótono perto do glamour de um passaporte carimbado.
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