O laptop que veio de Portugal e a Sefaz-SP sem comando

A história parece piada, mas é real: um computador da Secretaria da Fazenda de São Paulo (Sefaz-SP) atravessou o Atlântico sozinho, despachado em um voo comercial, e acabou apreendido pela Receita Federal no aeroporto do Galeão

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O aparelho desembarcou no Brasil sem nota fiscal e acabou retido na alfândega no Rio de Janeiro. Agora, para reavê-lo, a Sefaz-SP terá de pagar uma multa de R$ 6 mil. Uma cena tragicômica que escancara o descontrole de uma das secretarias mais estratégicas do governo de Tarcísio de Freitas.

O laptop era usado por Fernanda, funcionária da Sefaz-SP que, em vez de trabalhar em São Paulo, atuava confortavelmente em Portugal, sob as ordens de Marcelo Bergamasco Silva, o subsecretário que ficou conhecido como “o milanês” por passar temporadas inteiras trabalhando na cidade de Milão, na Itália. 

Quando o escândalo do home office internacional estourou, Fernanda foi chamada a retornar ao Brasil. Preferiu pedir demissão. E, revoltada, se negou a trazer o bem público de volta em mãos: mandou o notebook de avião. O resultado foi um vexame diplomático-administrativo, com a Receita Federal prendendo o equipamento como se fosse um contrabando oficializado.

Esse episódio grotesco é só a cereja no bolo de uma gestão sem comando. Desde o início, a Sefaz-SP vem acumulando escândalos e vexames sob a tutela do secretário Samuel Kinoshita. Primeiro, ele não teve pulso para coibir Bergamasco, que transformou Milão em seu verdadeiro gabinete. Ao contrário: foi conivente, sustentou sua nomeação e ainda recebeu como prêmio um decreto do governador Tarcísio de Freitas que, em vez de puni-lo, legalizou a aberração do home office internacional.

O laptop que saiu de Portugal, atravessou o Atlantico e acabou apreendido no Rio era o instrumento de trabalho da funcionária Fernanda, mas estava sob a responsabilidade do subsecretário-executivo da fazenda pública, Rogério Campos (foto).

Enquanto servidores de elite da Fazenda se multiplicam trabalhando do exterior, a máquina arrecadatória desmorona. Em São Paulo, auditores fiscais estão no centro de denúncias de extorsão bilionária contra empresários de peso, como os donos da Ultrafarma e da Fast Shop. Ao mesmo tempo, a sonegação de impostos atinge recordes históricos, fruto de uma fiscalização fragilizada e de um governo que prefere empurrar problemas para debaixo do tapete.

O laptop de Portugal é uma metáfora perfeita: um bem público perdido no vai-e-vem das conveniências privadas, tratado com a mesma irresponsabilidade que hoje governa a Sefaz-SP. A pasta que deveria zelar pelo equilíbrio das contas estaduais virou piada internacional, comandada por um secretário omisso, um subsecretário que prefere a Itália à Avenida Rangel Pestana e funcionários que despacham equipamentos públicos como se fossem bagagem pessoal.

Se a Receita Federal teve de prender um simples computador para ensinar o óbvio, fica a pergunta: quem vai conter o desgoverno que se instalou na Secretaria da Fazenda de São Paulo? O governador Tarcísio de Freitas talvez não consiga, já que ele declarou que só sorri e acena, como o Pinguim de Madagascar, enquanto os outros trabalham. Vejam o vídeo: 

https://drive.google.com/file/d/1VhYZRZX_VYtCCtRvx09BljedNLoif3O1/view?usp=share_link

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