A omissão de Tarcísio, Kinoshita e Bergamasco diante do maior esquema de sonegação da história de São Paulo

Desde o início de 2023, apontamos de forma recorrente a ineficácia do governo Tarcísio de Freitas e de seus auxiliares no enfrentamento da sonegação fiscal no Estado de São Paulo

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A megaoperação Carbono Oculto, deflagrada nesta quinta-feira (28/8) pelo Ministério Público de São Paulo, Ministério Público Federal e forças policiais em sete estados, escancarou a face mais brutal da inoperância do governo paulista no combate à sonegação de impostos no setor de combustíveis. O esquema criminoso, comandado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e envolvendo centenas de empresas, movimentou bilhões de reais em operações fraudulentas, adulteração de combustíveis e lavagem de dinheiro. Apenas em São Paulo, estima-se que os cofres públicos tenham sido lesados em mais de R$ 7,6 bilhões.

As reportagens do G1 e do Estadão revelam como a quadrilha estruturou uma rede de postos, distribuidoras, transportadoras e até fintechs para dar aparência de legalidade ao crime. O metanol importado ilegalmente pelo Porto de Paranaguá, desviado clandestinamente e usado para adulterar gasolina, é só a ponta do iceberg. A estrutura se sofisticou a ponto de infiltrar-se no coração do sistema financeiro nacional: a Avenida Faria Lima, onde fundos de investimento e corretoras serviam de fachada para a lavagem bilionária.

O que impressiona não é apenas a ousadia da organização criminosa, mas a total ausência de ação preventiva do governo do Estado de São Paulo. Desde janeiro de 2023, quando Tarcísio de Freitas assumiu o Palácio dos Bandeirantes, acompanhado de Samuel Kinoshita (secretário da Fazenda) e Marcelo Bergamasco (subsecretário da Fazenda), nenhuma medida efetiva foi adotada para frear a sangria fiscal no setor de combustíveis. Ao contrário, a gestão preferiu a retórica da eficiência, enquanto a criminalidade organizada consolidava o maior cartel já visto na economia formal do país.

Não faltaram alertas. O Blog do Luchetti, por exemplo, desde o início de 2023, vem denunciando quase semanalmente a paralisia e a ineficiência dos órgãos da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo (SefazSP) responsáveis pelo combate à sonegação de combustíveis. Os avisos foram ignorados. O resultado é que a SefazSP assistiu de braços cruzados à captura do setor por grupos criminosos, expondo não apenas a fragilidade do aparato fiscal, mas também a conivência política de quem prefere manter os olhos fechados diante do problema.

Enquanto autoridades federais e forças-tarefa interestaduais desmantelam parte do esquema, São Paulo segue servindo como exemplo de negligência. O Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos do Estado (CIRA-SP) agora corre atrás do prejuízo, pedindo bloqueio de bens que dificilmente cobrirão os quase R$ 8 bilhões já perdidos. Um esforço tardio, que poderia ter sido evitado com uma política séria e contínua de fiscalização.

A verdade é incômoda: a gestão Tarcísio de Freitas, Samuel Kinoshita e Marcelo Bergamasco fracassou no dever elementar de proteger as finanças públicas do crime organizado. Se o Estado mais rico do país não consegue blindar sua arrecadação, o que esperar dos demais? A operação Carbono Oculto mostrou que a sonegação de combustíveis não é apenas um problema econômico, mas também de segurança pública, pois alimenta diretamente a engrenagem financeira do PCC.

O governador Tarcísio e seus auxiliares não podem fingir surpresa diante da gravidade do caso. Eles são responsáveis, por ação ou por omissão, pelo colapso do combate à sonegação em São Paulo. E enquanto não houver uma mudança real na política fiscal do Estado, o crime continuará encontrando terreno fértil para prosperar à custa da sociedade.

Solicitação oficial à Ouvidoria da Secretaria Estadual da Fazenda de São Paulo

Blog do Luchetti está encaminhando ao Dr. Florêncio dos Santos Penteado Sobrinho, responsável pela Ouvidoria da Sefaz-SP, um pedido formal, com base na Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011) e na Lei de Transparência, para que a Ouvidoria forneça um relatório detalhado sobre quantas vezes as viaturas de fiscalização da secretaria saíram às ruas para verificar a sonegação em todos os setores entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024.

A solicitação se apoia em informações fornecidas por funcionários da própria secretaria, que revelam uma leniência contumaz do setor de transportes da fiscalização. Não há registros — ou existem pouquíssimos — de que as viaturas tenham saído para combater irregularidades nesse período de mais de dois anos. Se confirmado, será a prova cabal de que o governo estadual não apenas se omitiu, como acabou colaborando com a sonegação no setor que mais enriquece o crime organizado em São Paulo.

Comentários

  1. Avatar de Antonio Albuquerque
    Antonio Albuquerque

    Como leitor do Blog, testemunho que o motivo da operação Carbono Oculto, que agora ganha a grande mídia como escandalosa novidade, já era denunciado há anos pelo jornalista Alberto Luchetti.

  2. Avatar de Valter Neto
    Valter Neto

    Muitos de nós, usuários de postos de combustíveis da Capital e Grande S. Paulo já sofreram danos nos seus veículos por causa de combustível adulterado. Reclamações foram feitas, mas a reportagem e/ou matéria deixa bem claro que nada foi feito, até então, para coibir esses abusos .

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