Porto de Santos em Xeque: investigações contra Anderson Pomini colocam em risco a maior concessão do Hemisfério Sul

Eles riem à toa: Márcio França, Anderson Pomini e Geraldo Alckmin exibem sorrisos largos, enquanto nos bastidores o Porto de Santos é alvo de denúncias de corrupção e suspeitas de ter seu presidente Pomini envolvido com a Máfia do INSS

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A maior operação portuária do Hemisfério Sul está prestes a enfrentar seu momento mais decisivo, mas ela esbarra em um obstáculo que o governo insiste em fingir que não vê: o presidente do Porto de Santos, Anderson Pomini, tornou-se alvo de busca e apreensão da Polícia Federal no escândalo bilionário da chamada Farra do INSS ou Máfia do INSS.

Às vésperas do parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o megaleilão do Tecon 10, o principal gestor do porto mais estratégico do país encontra-se no centro de uma investigação que desnudou um esquema de descontos fraudulentos e bilionário contra aposentados. A coincidência de datas não é apenas infeliz; ela é devastadora para a credibilidade de um processo que exige rigor absoluto, transparência e isenção total.

Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal, escancarou ramificações da Máfia do INSS ou Farra do INSS em escritórios, agentes públicos e personagens influentes da burocracia federal. Entre os alvos, Anderson Pomini — advogado, aliado histórico do PSB e apadrinhado político do microministro Márcio França, titular do Ministério da Microempresa, de onde pouco se sabe sobre o desempenho dele e de sua pasta.

Pomini agora tenta explicar por que seu nome aparece no inquérito divulgado pelos portais R7; Metrópoles; InfoMoney; A Tribuna de Santos; BandFM; Cláudio Dantas e Revista Fórum. Neles ele nega qualquer relação com o INSS e afirma que eventual citação pode decorrer de sua atividade profissional privada. O fato é que, com ou sem intenção, seu envolvimento já contaminou o ar político e institucional em um momento que não poderia ser mais sensível.

Na próxima terça-feira, o ministro Antônio Anastasia apresentará no TCU seu parecer sobre o modelo do leilão do Tecon 10, que pode quase dobrar a movimentação de cargas em Santos. Trata-se da engrenagem central do plano de expansão portuária do governo e de um ativo estratégico disputado por gigantes globais do setor.

A definição do TCU destrancará o edital, abrirá caminho para lances internacionais e determinará se o Brasil conseguirá seguir adiante com uma concessão estimada em R$ 40 bilhões em investimentos ao longo de 25 anos. É, sem exagero, um dos processos mais importantes de infraestrutura logística brasileira nas últimas décadas.

E justo agora o comando do Porto de Santos é sacudido por uma investigação criminal. O desconforto é inevitável. Como garantir integridade, transparência e lisura plena em um certame dessa magnitude quando Anderson Pomini – a principal liderança da estatal – aparece envolvido em um escândalo de corrupção bilionária que atinge aposentados do país inteiro?

Como discutir risco de concentração de mercado, modelos de rodada única ou duas fases, disputas entre Maersk, MSC, Cosco, PSA, JBS e tantas outras gigantes, se a própria cadeira da presidência do Porto de Santos, ocupada por Pomini, tornou-se um ruído permanente no processo, levantando suspeitas sobre a lisura do certame?

Interessa pouco, neste momento, se Anderson Pomini será réu, testemunha ou alheio ao mérito da investigação. O que importa é que o comando do Porto de Santos não pode pairar sob nenhuma sombra.

O Brasil tenta atrair players internacionais, convencer fundos globais, disputar o interesse de conglomerados asiáticos e europeus. Não existe concorrência séria em ambiente contaminado. A imagem institucional do Porto de Santos deveria ser preservada com o máximo zelo e não submetida à investigação da Polícia Federal como está na figura de Anderson Pomini.

O governo, contudo, faz silêncio. Um silêncio que soa cúmplice, conveniente e absolutamente deslocado diante da responsabilidade histórica de garantir que o Tecon 10 não se transforme em mais uma novela judicializada, contestada ou paralisada por insegurança jurídica.

Em qualquer país minimamente comprometido com a reputação de suas licitações estratégicas, o afastamento cautelar de Anderson Pomini já estaria decretado — não como punição, mas como proteção ao processo e à lisura do certame.

Se a concessão do maior terminal de contêineres do país exige transparência total, por que manter Anderson Pomini no cargo? Se o governo afirma querer atrair competição global e reduzir riscos, por que tolerar que Pomini, o principal gestor do Porto de Santos, esteja sob investigação da Polícia Federal em um esquema bilionário de corrupção da Máfia do INSS

Anderson Pomini um verdadeiro camaleão político

Anderson Pomini não caiu do céu. Ele é um camaleão político. Cria do ex-prefeito e ex-governador João Doria Júnior, do PSDB, abandonou Doria e foi trabalhar com o principal adversário político e desafeto do tucano, o socialista oportunista Márcio França, do PSB. Ficaram tão íntimos que França virou sócio do escritório de advocacia de Pomini.

Mas Anderson Pomini se afastou de Márcio França e do PSB quando França foi escanteado por Lula. Pomini ficou próximo do atual ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, do Republicanos, e hoje é homem de confiança do presidente do partido, deputado Marcos Pereira, da Igreja Universal, do bispo Edir Macedo.

PSB de Márcio França virou passado para Pomini assim como o PSDB de João Doria. Mesmo próximo do Republicanos, Pomini aceitou que seu escritório de advocacia, em sociedade com França, assumisse a defesa de Pablo Marçal, do PRTB, numa ação contra Tabata Amaral, do PSB, cuja vice candidata da chapa era a esposa de Márcio, Lucia França. Caracterizando um padrão camaleônico e oportunista de alianças políticas.

Denuncias de corrupção contra Pomini, no Porto de Santos, feitas por um senador da República, Alexandre Giordano (ambos na foto)

Há quase dois anos como presidente do Porto de Santos, Anderson Pomini tenta administrar, desde o início de sua nomeação, as denúncias de corrupção escritas e assumidas pelo senador Alexandre Giordano, do MDB. Em um requerimento oficial do Senado Federal, com nomes de empresas, valores de propinas, contratos sem licitação e privilégios a determinadas companhias, o senador Giordano denuncia corrupção de Anderson Pomini.

A acusação mais dura que Pomini sofre de Giordano é quando ele escreve que “Pomini teria pago cerca de Um Milhão de Dólares (mais de cinco milhões de reais) para permanecer no cargo de chefe do Porto de Santos”, quando Lula demitiu Márcio França e chamou Silvio Costa para assumir o Ministério.

Quem teria recebido um milhão de dólares no Ministério de Portos e Aeroportos, segundo denúncia do senador Giordano? Essa e todas as outras sete denúncias feitas pelo senador estão sendo investigadas pela Controladoria-Geral da União, a CGU, a mesma entidade que vem apurando a corrupção da Máfia do INSS.

O resultado é grotesco: o PSB colocou Pomini, o Republicanos manteve Pomini, e o Porto de Santos paga a conta da omissão e do clientelismo dos dois lados. A CGU apura denúncias graves de corrupção de um senador da República contra Anderson Pomini, e a Polícia Federal investiga, com busca e apreensão nos endereços de Pomini, informações sobre seu possível envolvimento no escândalo bilionário da Máfia do INSS.

Tudo isso explodindo no Porto de Santos de um lado e um leilão bilionário que poderá ser decidido amanhã (18/11/2025) do outro. O país precisa escolher: quer um leilão histórico e incontestável ou quer carregar nas costas a suspeita de que o Porto de Santos — o mais estratégico do Brasil e o mais importante do Hemisfério Sul — está sendo conduzido sob um comando manchado?

Não adianta Pomini alegar desconhecimento dos autos da Máfia do INSS ou da Farra do INSS. Não adianta o PSB fingir surpresa. Não adianta o Republicanosdizer que está apenas “dando continuidade” a uma administração já existente. A responsabilidade é compartilhada. O Porto de Santos virou palco de uma parceria tóxica entre partidos que tratam um ativo estratégico como se fosse feudo eleitoral.

Em nome do interesse público, da transparência e da integridade da maior licitação portuária da história recente do Brasil, com uma concessão estimada em R$ 40 bilhões em investimentos ao longo de 25 anos, o afastamento de Anderson Pomini no comando do Porto de Santos não é apenas oportuno. É urgente.

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