José Roberto Luchetti*
A chegada do Papa Francisco à liderança da Igreja Católica e comando do Estado do Vaticano, em 2013, e no mesmo ano a visita ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, reacendeu a fé dos católicos, mas também chamou a atenção dos não católicos. E o que estava por trás de todo esse simbolismo? A forma diferente de comunicação, desse jeito, ele se empoderou (palavra da moda) de uma capacidade para tentar trazer o rebanho de volta, de fazer como Pedro, o pescador de homens. O Papa Francisco é um comunicador nato, simples e direto e há mais de dez anos tem feito com extrema maestria. No livro de minha autoria “O Médico e o Jornalista” da editora DOC Content, publicado em 2016, eu selecionei alguns cases de comunicação e Jorge Bergoglio foi um deles.
Poucos papas concederam entrevistas coletivas, muito menos participaram de conversas exclusivas com jornalistas. Francisco fez as duas coisas. Lição número um: falar de forma aberta e franca sobre os mais variados assuntos, principalmente os polêmicos, aqueles que ninguém quer tratar, mas que são absolutamente necessários e os jornalistas vão tocar. Francisco deu respostas firmes, naquela viagem ao Brasil, sobre gays, corrupção na Igreja, a possibilidade de comunhão para quem vive em segunda união, entre tantos outros. Nas falas do Papa, ficou claro que são ideias consolidadas que ele tem sobre os temas, ou seja, nada que tenha sido pensado de um dia para o outro.
Outra virtude do Papa é a sinceridade. A qualidade permitiu que Francisco pudesse voltar atrás quando disse algo que não considerava exatamente aquilo que pensava ou que tenha tido uma repercussão ruim. Certa vez, o Papa comparou a celebração dos carismáticos à coreografia de uma escola de samba. Depois se arrependeu e voltou atrás na declaração. Lição número dois: não temer ao dar uma declaração inadequada. Todos erram e admitir o erro é a forma mais simples para “virar a página”.
A terceira e mais importante lição do Papa, em relação à comunicação, é a forma como ela foi estabelecida. Ao optar por um papamóvel aberto, sem vidros, pode descer, pegar crianças e beijá-las e, de fato, estar em contato com os fiéis. O jeito simples o aproxima das pessoas e tudo o que está à sua volta comunica desta mesma forma: o trono sem adornos, as roupas, os sapatos gastos, o anel de São Pedro de prata e o fato de carregar a própria bagagem na subida e na descida do avião. E o que leva na bagagem de mão? Perguntaram ao pontífice. “Um barbeador, objetos de higiene, um livro para ler na viagem, uma agenda de telefones, um crucifixo que era de meus avós e nada mais”, respondeu. Desde o início, Francisco vem se comunicando assim. Ao escolher morar na Casa Santa Marta, ao invés dos aposentos papais, deixou claro a linha a ser adotada.
A lição número quatro vem nas palavras do próprio Papa, na mesma viagem que fez ao Brasil e em tantas outras ocasiões: “O povo brasileiro tem um grande coração. Quanto à rivalidade, creio que já está totalmente superada. Porque negociamos bem: o Papa é argentino e Deus é brasileiro.” A descontração e o bom humor são pontos essenciais para a boa comunicação e Francisco sabe como ninguém utilizar estes recursos.
A quinta lição é a utilização das mídias sociais de forma racional. O Twitter, ou X, oficial do Papa tem mais de 55 milhões de seguidores em vários idiomas. Um recurso criado pelo antecessor, mas intensificado por Francisco que prioriza a comunicação nas duas pontas – com os jovens e com os idosos.
O discurso do Papa Francisco dá a sensação de sinceridade e tudo o que ele faz também tem a mesma aparente verdade. Ele deixa o sermão de lado e dialoga com os fiéis, com a sociedade que está atenta ao líder religioso, ao chefe de estado ou simplesmente ao homem que se comunica com as massas.
*José Roberto Luchetti é jornalista, escritor e sócio da DOC Press. Trabalhou nas emissoras Globo, Band e Rede Mulher, além da rádio Eldorado (atual rádio Estadão).
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